Relacionamentos amorosos em rápidas pinceladas
Compartilho a seguir em cinco rápidas “pinceladas” algumas ideias sobre esse tema delicioso e ao mesmo tempo bem espinhoso, mas que são fundamentais para uma vida saudável.
Não são propriamente pílulas, no máximo um rápido aperitivo para mais reflexões.
Primeiro de tudo, não tem receita de bolo para bons relacionamentos. A experiência pessoal vale mais do que qualquer teoria.
Mas uma regra que parece sempre funcionar é a de que precisamos estar dispostos a nos transformar com as experiências. Boas ou ruins!
A questão central é: dificilmente conseguiremos nos relacionar bem com os outros sem primeiramente aprendermos a nos relacionar bem conosco mesmo.
Essa é uma bela chave mestra!
Esperamos receber dos outros o que não damos a nós mesmos: aceitação, compreensão, respeito, atenção e, especialmente, amor.
Ninguém vai nos respeitar se não nos respeitarmos, ninguém vai nos valorizar se nós próprios não nos valorizarmos, ninguém vai nos amar se não nos amarmos.
Simples assim!
Reflita! Você gostaria de ficar na companhia de uma pessoa que traz dentro de si sentimentos de autopiedade, de falta de respeito e de amor por si mesmo? Provavelmente não!
Isso não quer dizer porém que devemos fazer um longo aprendizado pessoal para só depois ficarmos “prontos” para relacionamentos. Se assim fosse, quase a totalidade das pessoas estaria ainda sozinha. Os relacionamentos, como a nossa própria vida, são parte de um processo de evolução, e acontecem no fluxo contínuo da existência. São construídos.
Deepak Chopra diz que “todo relacionamento tem um significado oculto, e este está a serviço de nossa evolução”. E esse significado é, no fundo, espiritual.
Faz sentido para você?
Na área amorosa muitas pessoas estão se sentindo frustradas, magoadas e com sensação de perda de tempo e energia, daí resultando tristeza, solidão e descrença.
Pensam: “não quero mais amar ninguém nem me entregar a um relacionamento. Chega!”.
Isso acontece por uma gama de motivos, que passam pela superficialidade das relações e o individualismo exacerbado. O padrão tradicional de amor e sexo baseado na idealização do outro não dá mais respostas satisfatórias. Pior, não existe consenso sobre os novos caminhos.
Um bom começo para essa reflexão é buscar uma sintonia fina entre os verbos “desejar” e “precisar”. Desejar um relacionamento está mais próximo de querer algo para si, almejar. E precisar de um relacionamento soa mais como necessitar, carecer.
As relações que se estabelecem porque as pessoas desejam ter uma boa relação mas não estão carentes dela parecem funcionar bem melhor do que aquelas que a relação acontece porque as pessoas estão fragilizadas e precisam de alguém ao seu lado.
Quem está se afogando tem grandes chances de encontrar outro náufrago…
O amor seria como uma borboleta. Quanto mais corrermos atrás dela, mais ela se afasta. Se ficarmos tranquilos elas podem se aproximar!
É claro também que nem todo mundo precisa ter um relacionamento amoroso nos moldes tradicionais, ou mesmo de ter um relacionamento amoroso como condição de ser feliz.
Existem múltiplas e variadas formas de construirmos o nosso caminho. Viver só pode ser uma boa opção para quem se entrega com plenitude em outras áreas da vida (trabalho, lazer, espiritualidade, projetos sociais) e tem relacionamentos variados e saudáveis com a família, amigos, etc.
E qual é a sua (a nossa) situação?
Correndo atrás de borboletas?
Relacionamentos amorosos, em rápidas pinceladas!
Chegou a hora de falar sobre aquela situação desagradável que normalmente fugimos dela: a dos conflitos!
Os conflitos são inevitáveis e pedagógicos, mas nem todos os percebemos dessa forma.
Segundo o casal de terapeutas americanos Jordan e Margaret Paul, temos a oportunidade ou de nos defender ou de aprender com os conflitos.
A “defesa” é o caminho do medo e da proteção. A “aprendizagem” é o caminho da evolução.
Existem três formas principais de defesa: a do controle, a do consentimento e a do não-consentimento (ou resistência passiva).
Na primeira categoria, a de controle, tenta-se mudar o outro (tipo “tem que ser do meu jeito”).
Na segunda, a do consentimento, há desistência de si mesmo em função do medo do conflito e desaprovação (“me submeto e faço o que você quiser para que eu seja aceito”).
Na terceira, do não-consentimento, existe uma resistência implícita que se traduz em retirada ou fechamento (“na verdade não preciso de você”).
No “Pathwork”, segundo a linha apresentada por Eva Pierrakos, essas três formas são conhecidas como agressividade, submissão e retirada.
Todos nós temos a tendência automática de adotar uma ou mais dessas posturas de defesa, embora uma delas seja a predominante.
No seu caso, como você se reconheceria, na forma usual de defesa nos conflitos? Isso valeria mesmo quando não se trata de um vínculo afetivo mais próximo?
No fundo, se formos bem honestos, teremos que reconhecer que atrás dessas estratégias existe um “quê” de manipulação para nos sentirmos fortes, admirados, valorizados, amados.
Ou até uma forma meio torta de escondermos nossas fragilidades.
Triste, não? Mas bem real!
Segundo ainda o citado casal de terapeutas, a alternativa mais sábia à atitude de defesa é a postura de aprendizagem, que traduz um comportamento amoroso.
O objetivo seria conhecer a fundo a motivação e as circunstâncias que cercam os comportamentos, tanto os próprios como os da outra pessoa. A fórmula passa por profundar a intimidade, em outras palavras.
Por meio desse olhar se permitiria construir um novo espaço de compreensão.
O requisito essencial é tornar-se vulnerável e se abrir para o outro, o que infelizmente raramente estamos dispostos. A impressão que dá é que estaríamos perdendo as nossas referências. O ego reclama!
Aprendemos durante a vida inteira que temos que nos defender para não sofrer, que devemos esconder as nossas fraquezas, etc. É a regra do mundo competitivo, mesmo nas relações afetivas, infelizmente.
Ao contrário, o relacionamento fundado em posturas amorosas de abertura e vulnerabilidade passa a ser instrumento de aprendizagem e transformação, inclusive no plano individual, do autoconhecimento.
Assim, os conflitos e mesmo as crises de relacionamento não sugerem uma situação de afastamento ou rompimento, mas um desequilíbrio que demanda tratamento.
Um sinal de que algo precisa ser cuidado, sobretudo quando aparecem as nossas ditas “sombras” após a fase de encantamento natural dos primeiros tempos da relação.
Difícil? Talvez seja, mas é uma trilha segura para se aumentar a intimidade e a verdade da relação, terrenos onde a cumplicidade e o amor podem florescer com mais vigor.
Porém, não quer dizer que essa postura de abertura deva se eternizar caso o relacionamento não mostre evolução ou a outra pessoa não venha em algum momento a se sintonizar com essa mesma dinâmica, comprometendo a continuidade da relação.
A partir de determinado ponto temos que fazer escolhas, às vezes difíceis, mas independentemente do resultado teremos a certeza de que fizemos o nosso melhor em busca da verdade.
No mínimo, sairemos da relação sem culpas ou arrependimentos e com maior experiência de vida.
Será que funcionaria para você?
Relacionamentos amorosos em rápidas pinceladas
Continuando a compartilhar “pinceladas” sobre esse tema delicioso mas um tanto espinhoso chegou a hora de falar sobre questões sutis e até mesmo inconscientes.
O convite é para refletirmos sobre o padrão familiar que repercute em nossos relacionamentos e os limites que devemos definir para negociar com os parceiros.
É importante ficarmos atentos para perceber se estamos ou não repetindo padrões familiares em nossas relações.
Recebemos uma determinada herança familiar e a projetamos em nossa vida, seja buscando seguir o modelo de nossa família de origem seja procurando reagir à sua influência, pela postura contrária. Como se existisse uma espécie de pacto interno inconsciente definindo a intenção de no futuro sermos iguais ou diferentes de nossos pais.
Por exemplo, se a minha mãe foi submissa eu “…agora terei um comportamento autoritário e não abaixarei a cabeça nos meus relacionamentos”. Ou o contrário, “…tenho que ser submissa como a minha mãe para manter o status do meu casamento e os meus filhos felizes”.
Ou, pior, assumindo um papel de “resgate” ou de “culpa” de algum membro da família, numa visão sistêmica. Bert Hellinger, na abordagem chamada constelação familiar, nos ensinou possibilidades de sairmos desses padrões distorcidos.
Ao percebermos a influência familiar é importante buscarmos reformular nossas atitudes e preconceitos que se mostrem fora de foco, num processo de flexibilidade e “desligamento” da história de nossos pais, ainda que os honremos. Isso passa pelo lado racional mas principalmente pelas emoções e eventuais dores. A coragem é um dos requisitos.
Por outro lado, existe um aparente paradoxo nos relacionamentos, qual seja, o propósito de fortalecer o vínculo interpessoal e ao mesmo tempo possibilitar espaço para as individualidades.
De um lado, compromisso, do outro, liberdade!
Uma disputa que oscila entre os movimentos sutis e os de campo de guerra declarado.
O desafio se torna construir um universo em comum sem anular as individualidades, mantendo a saúde emocional dos parceiros.
Haja desafio! Falar é fácil, fazer fluir nem tanto…
Caberia fazer as seguintes perguntas: “estamos dispostos a respeitar a individualidade do outro, abrindo mão de nosso jeito de fazer as coisas e da nossa possessividade?”; “estamos por outro lado conscientes de que somos merecedores de manter a nossa individualidade, um espaço de privacidade que não permitiremos que o outro invada?”.
Muitos animais nos ensinam isso. Fazem xixi para demarcar território!
Respeitar o outro, mas também exigir respeito ao nosso espaço. Com as mesmas regras e princípios, igualitariamente.
Com flexibilidade, claro. Se não gostamos da sogra (que me perdoem, é apenas um clichê), não precisamos concordar em passar todos os finais de semana, feriados e natal na casa dela, mas é razoável que no seu aniversário e em algumas datas importantes para a família estejamos presentes, agradando a nossa parceira. Isso vale para os genros também, claro. Mas, por favor, sem fazer “cara de paisagem” ou postura de distanciamento e arrogância, que sempre incomodam. De vez em quando conviver com alguém pela qual não morremos de amor não tira pedaço de ninguém.
Igualmente não faz sentido mudar nossas amizades dos tempos de solteirice porque rever os amigos ou amigas gera ciúmes em casa. Mas também não dá para tomar cerveja após o futebol até às duas horas da manhã, deixando a companheira com os filhos pequenos se descabelando em casa.
“É preciso saber viver”, diz a canção popular.
A vida tem suas imperfeições e um sinal de maturidade é aceitá-las, com limites.
Em nós e nos outros!
Relacionamentos amorosos em rápidas pinceladas!
Continuando a compartilhar “pinceladas” sobre esse tema delicioso e desafiador chegou a hora de um olhar realista sobre o nosso parceiro ou parceira. Como primeiros passos, vimos focando em nossas limitações e possibilidades de amadurecimento pessoal. Perfeito! Mas sozinhos não vamos muito longe. Uma boa relação depende do outro também! Primeiro, sabemos de fato o tipo de pessoa que queremos e as condições da relação que almejamos? Não dá para aceitar qualquer forma de relacionamento nem qualquer pessoa que se apresente! A nossa valorização pessoal começa nesses aspectos, não porque sejamos melhores nem especiais, tampouco pessoas exigentes, mas porque devemos buscar relações que tenham um mínimo de sintonia conosco, com as nossas expectativas, com a nossa energia e com o nosso grau de evolução. Existem muitos fatores que determinam a constituição de um relacionamento e que funcionam como pilares de uma construção. Alguns são básicos, outros apenas auxiliares. Se os pilares básicos ficam comprometidos a relação como um todo não se sustenta por muito tempo, ainda que os pontos auxiliares estejam sólidos. Os pilares podem ser o vínculo amoroso, dirigido para a figura do parceiro (admiração, afinidades, atração sexual, valores), ou relacionados com algum tipo de dependência emocional (a necessidade às vezes até neurótica de se ter um parceiro forte e agressivo, por exemplo) ou os pilares relacionados a certas conveniências (necessidade financeira, status, etc.).
Os três tipos de vínculos podem coexistir numa mesma relação, mas é o vínculo amoroso que expressa a dimensão mais saudável, por assim dizer, embora todos possam ter a sua legitimidade. Os vínculos básicos constituídos a partir de dependência emocional ou de conveniência são muito comuns e até duradouros, ainda mais numa sociedade em que existem tantas pessoas neuróticas e egoístas, mas tendem a ser mais críticos e vulneráveis quando desaparece o fator central que gerou a atração. Por exemplo, quando a pessoa antes dependente emocionalmente se torna mais madura e consciente ou quando a necessidade material é suprida por outra fonte (independência financeira, a mais comum) a relação tende a balançar fortemente. Mesmo nesses casos, porém, não se pode afastar a possibilidade de realinhamento em bases mais saudáveis caso algum fator antes inexpressivo se torne substituto. O vínculo com base no pilar amoroso, por outro lado, sempre exige muito respeito às individualidades quando aparecem os conflitos. A necessidade é de amadurecimento de ambos na relação. Um grande desafio, mas de enorme crescimento pessoal, aliás o que confere aos relacionamentos um significado espiritual. Devemos estar atentos a essas circunstâncias para não entrarmos sem consciência em relacionamentos que não tenham sustentação mais profunda na realidade que queremos construir. Ou se o fizermos, assumirmos os riscos e os desafios da empreitada. De alguma forma poderemos aprender! Às vezes as razões são sutis e inconscientes e nós mesmos não percebemos os “porquês” de nos aventurarmos em relações que são uma autêntica “roubada” e que podem se prolongar pela vida toda. Quem nunca presenciou casais até jovens que sequer se olham num restaurante e ficam calados ou com a cara “azeda” durante toda a refeição? Nós é que sabotamos e roubamos as nossas possibilidades de felicidade, tendo consciência disso ou não. Um preceito básico deveria ser entoado como um mantra é: “mereço ser feliz no amor (e na vida), não me resignarei à dor de uma relação ruim, não me acostumarei a tolerar o que não deve ser tolerado”. Em outras palavras, usar a sabedoria do não (“não quero uma pessoa excessivamente ciumenta, não quero alguém que me tire a liberdade, não quero infidelidades, não quero que me desrespeitem, não quero viver em abstinência sexual”) para construir a sabedoria do sim, e materializar o que queremos num relacionamento. Sem idealismos e sonhos impossíveis. Existem aspectos que são inegociáveis, que não devemos transigir sob pena de trairmos a nossa essência, demonstrando falta de amor próprio. Claro, não devemos dizer os nãos de maneira açodada e imatura sem antes
explorarmos — o mais amplamente que pudermos — as possibilidades de entendimento e compreensão. Viver bem e com bons relacionamentos são faces de uma mesma moeda. Vamos gritar “fora os abacaxis”.
Relacionamentos amorosos em rápidas pinceladas!
Chegou a hora de falar sobre as nossas dores de rejeição e abandono! De quando recebemos um NÃO! Ninguém está livre disso. É doloroso, mas não mata.
Fora situações neuróticas extremas, morreram por amor apenas Romeu e Julieta e mesmo assim porque se equivocaram no momento de tomar o veneno.
Receber um não tem até um efeito pedagógico para nos lembrar que todos estamos sujeitos a frustrações e contrariedades na vida. Viver também é correr riscos. As pessoas tendem a atrair o parceiro adequado ou “certo” para o seu estágio de evolução, alguém que tem na essência bagagem emocional e espiritual semelhantes para embarcar na mesma jornada. Ou tem algo especial que se precisa aprender numa fase da existência, mesmo que esse algo seja indigesto ou tenha sabor amargo. Mas nem sempre os relacionamentos funcionam bem ou acabam de forma harmoniosa, muito pelo contrário. Sempre existe a hipótese de a outra pessoa “escolhida” estar ou não aberta a relacionamentos profundos como desejamos ou mesmo decidir não se relacionar conosco além de um determinado momento. Uma liberdade que devemos sempre respeitar e estarmos prontos para não exigir reciprocidade. E admitir eventual separação. A “chave” — que normalmente é pouco usada — é não tomar esse fato como uma atitude de rejeição ou abandono que abale a nossa autoestima. Existem motivos variados para que não nos queiram — a exemplo do que acontece conosco em sentido inverso –, exercendo o livre arbítrio.
Pode ser perfeitamente verdadeiro que a recusa do outro seja decorrente de sua imaturidade emocional, de seus problemas e conflitos interiores, de que os projetos de vida são inconciliáveis ou mesmo da percepção de que a relação ficou estagnada e se esgotou.
Claro que tais avaliações também podemos e devemos fazer.
Além do que é óbvio: não é uma decisão simplesmente racional amar ou deixar de amar alguém. Simplesmente acontece!
Claro que existe uma decisão da mente em algum momento crítico que justifique abandonar a relação, mesmo nos relacionamentos que têm base amorosa, mas isso acontece normalmente como fator de “desempate”, por assim dizer, quando a emoção por si só não sustenta as razões contrárias.
Assim, mesmo que a separação venha a doer — e é quase inevitável que isso aconteça, exceto quando já tenha ocorrido suficiente sofrimento ao longo do processo — será um convite para aceitarmos a realidade e não nos desesperarmos. No fundo, sabemos que um amor maduro e desprendido deixa o outro em liberdade, emana compreensão e não tem possessividade. “Amar demais”, forçando a continuidade da relação quando isso não é desejado pelo outro, é tão insensível e egocêntrico quanto amar de menos e viver no controle. Afinal, amar e ser amado só é sublime e completo quando acontece espontaneamente, no fluxo da existência!
Texto elaborado por Arnaldo de Castro Costa, psicoterapeuta em Brasília, como subsídio para vivências em workshops nos quais atua como facilitador. Esse conteúdo também fez parte de um livro de crônicas de sua autoria, “Sherlock Holmes agora é psicoterapeuta e outras histórias”